Onde o choro do bebê é uma música
Por Paula Kuhn,
psicóloga e diretora de operações da Jornada Quest
Era uma vez um escritório, mas não um desses comuns, onde o silêncio absoluto reina e os sussurros se perdem entre as paredes. Este era um lugar onde o som do choro de um bebê não era visto como uma interrupção, mas como uma melodia suave, lembrando que ali, além de profissionais dedicados, existiam pais e mães.
Joana, uma dessas profissionais, sempre acreditou que ser mãe não deveria ser um obstáculo, mas uma adição ao seu currículo de vida. Quando soube que estava grávida, seus sentimentos foram mistos: alegria pelo novo capítulo que se abria, mas também medo. Medo de perder o emprego, de ser vista como menos capaz, e que suas noites sem dormir com o bebê poderiam atrapalhar suas reuniões de manhã.
No entanto, para sua surpresa, a empresa onde Joana trabalhava tinha uma política diferente. Quando anunciou sua gravidez, em vez de olhares desconfiados, recebeu sorrisos e congratulações. Sua chefe, uma mulher que um dia enfrentou os mesmos medos, chamou-a para uma conversa sincera.
"Joana," disse a chefe com um olhar acolhedor, "aqui entendemos que ser mãe é um papel tão importante quanto qualquer outro. Vamos planejar sua licença, reorganizar as tarefas, e, quando você voltar, estaremos prontos para ajustar o que for necessário."
Essas palavras soaram como música para Joana!
Escritório: a família como inspiração
Quando seu bebê nasceu, ela se afastou do trabalho com a tranquilidade de que seu lugar estaria lá quando retornasse. E quando voltou, encontrou um time não apenas pronto para acolhê-la, mas também para ouvir o que aquele novo ser humano – pequeno, mas cheio de impacto – tinha a ensinar a todos.
A licença de Joana, longe de ser vista como uma inconveniência, foi uma oportunidade para o time demonstrar flexibilidade e resiliência. Aprenderam a redistribuir tarefas, a colaborar de novas formas e, acima de tudo, a respeitar o ritmo de vida de cada um.
Mas o escritório dos sonhos não parava por aí. Pedro, colega de Joana, não queria ser o pai ausente que só chega para o “boa noite”. Ele queria estar presente nas consultas do pediatra, nas reuniões escolares, nos primeiros passos. Quando pediu uma manhã livre para levar seu filho ao médico, recebeu apoio, e não repreensão.
Pedro passou a participar mais ativamente da vida familiar, sem que isso prejudicasse sua carreira. Na verdade, ele se tornou ainda mais produtivo, com a mente tranquila e o coração leve.
Novas habilidades sociais também nasceram ali
E, então, algo curioso aconteceu. Joana e Pedro começaram a notar que as habilidades que desenvolviam como pais – paciência, empatia, escuta ativa, negociação (quem nunca trocou um prato de brócolis por uma sobremesa?) – começaram a transbordar para suas vidas profissionais. Pedro percebeu que, depois de passar horas tentando acalmar o filho com cólica, uma reunião complicada no trabalho parecia um passeio no parque. Joana, por sua vez, trouxe para o escritório uma habilidade quase mágica de mediar conflitos – algo que ela praticava diariamente entre os irmãos em casa.
No fim das contas, aquele escritório onde os bebês mandavam e desmandavam, revelou-se um verdadeiro laboratório de habilidades sociais. Os pais que ali trabalhavam não apenas mantinham suas carreiras, mas as enriqueciam com a sabedoria adquirida na vida familiar. Eles não eram apenas mais empáticos e compreensivos, mas também mais criativos e resilientes.
Os resultados dessa cultura de bem-estar parental começaram a aparecer. A empresa tinha agora um time mais unido, onde as pessoas se ajudavam mutuamente, pois sabiam que poderiam contar umas com as outras. A rotatividade de funcionários caiu e a produtividade aumentou. Havia mais mulheres em cargos de liderança, e os homens também se sentiam à vontade para exercer plenamente o papel de pais.
No escritório dos sonhos, o trabalho não era um peso que os afastava das suas famílias, mas uma extensão das suas vidas, onde podiam ser profissionais e pais em igual medida. A mudança não aconteceu do dia para a noite, foi fruto de um projeto bem pensado, de muito diálogo e de uma liderança que entendeu que, ao valorizar as pessoas como um todo, o sucesso era garantido.
O bem-estar parental como motor de inovação
E, assim, aquele escritório mostrou ao mundo que o bem-estar parental é mais do que um benefício – é uma revolução silenciosa, que transforma vidas e constrói futuros mais justos e felizes. Afinal, um bebê muda tudo – até o jeito de trabalhar.
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